domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sobre a Educação Sentimental da Geração Coca-Cola

Um dos meus autores preferidos é o Nick Hornby. Ele escreveu “Alta Fidelidade”, lançado em 1998 no Brasil. O livro deu origem a uma mania de todo mundo, principalmente nas revistas e nas páginas de cultura dos jornais,  fazer listas de dez itens classificando a vida toda. Era tudo baseado nas paradas de sucesso, as “top five” das rádios inglesas. O livro começa com o protagonista, Rob Fleming,um cara trintão-e-alguma-coisa, dono de uma loja de discos de vinil, fazendo a lista dos cinco maiores foras que ele levou na vida. Os  foras que ele levaria para uma ilha deserta...Muito divertido o jeito que ele narra as proprias desgraças.  A versão cinematográfica feita em  Hollywood  troca a Londres do livro por Chicago.  Tem o excelente John Cusack no papel principal... Adoro o John Cusack.  O filme é muito divertido, mas o livro é melhor. Até porque a historia se passa na Inglaterra e a Inglaterra é a terra de todas as bandas pós-punk que eu ouvi na adolescência, influenciada por amigos mais espertos e inteligentes e que falavam inglês fluentemente. Feito esse parêntese, vale lembrar que  Nick Hornby ganhou o status de um dos autores que melhor descreve  a vida dos jovens --e  dos  adultos que se recusam a crescer-- do final do século 20, começo do século 21. Nick Hornby, por meio do seu personagem Rob Fleming,  lançou uma teoria sobre a vida amorosa das pessoas que passaram a adolescência  ouvindo o pop dos anos 70.  Dizia que não tinha como um cara que cresceu ouvindo  “How can you mend a broken heart”, dos Bee Gees, “Love Hurts”, “ I just don´t know what  to do to myself” e mais uma lista enorme de canções  sobre corações partidos e amores mal sucedidos obter sucesso na vida amorosa. “Como é que isso pode não deixar você magoado de alguma forma? Como é que isso pode não transformá-lo no tipo de pessoa passível se quebrar em pedacinhos quando seu primeiro amor dá todo errado? O que veio primeiro, a música ou a dor? Eu ouvia a musica porque estava infeliz? Ou estava infeliz porque ouvia a musica? Esses discos todos transformam você numa pessoa melancólica? As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem a vídeos violentos, temos medo que assimilem um certo tipo de culto a violência. Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares—literalmente milhares—de canções sobre amores perdidos e rejeição e dor e infelicidade e perda. As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de musica pop, e não sei se foi a musica pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes”(Nick Hornby-Alta Fidelidade). Nick Horbny nasceu no início dos anos 60, final dos 50. Nos anos 80 estava nos vinte anos. Sou mais nova pelo menos dez anos do que ele. Nasci no Brasil. Cresci ouvindo rádio. Ou seja, talvez a teoria que ele tem sobre as crianças que ouvem musica pop se transformarem em adultos mal sucedidos romanticamente pode ter algum sentido... Os nascidos na década de 70 no Brasil, pegaram o início do movimento Rock Brasil na tenra idade. Antes mesmo de saber o que era um beijo na boca, em 82, as festinhas de aniversário que eu frequentava com meus amiguinhos eram animadas por musicas da Blitz, “perdi meu amor no Paraíso, dou tudo que eu tenho por um abrigo... “ ou “mas realmente eu preferia que você estivesse nua...você não soube me amar”, Educação Sentimental de Kid Abelha.. “agora você vai embora e eu não sei o que fazer...” ou “não faça nada pro mim, não va pensando que eu sou seu”.. . e outras composições de  Léo Jaime... Gente... Léo Jaime tem letras capazes de arrepiar...”ainda encontro  a fórmula do amor”... ou “ a vida não presta, ela não gosta de mim”...fora aquele monte de canções com nome de mulher...  Na inocência da pré-adolescência, eu e meus amigos  chegávamos em casa sem voz nas noites de sábado, suados de tanto dançar, roucos de tanto cantar aos berros aquelas letras, rocks embalados, modernos,  cantados em português,  que a gente gritava na garagens e nas salas dos aniversariantes, nas festas da escola... Ouvíamos nos rádios dos carros, quando as bandas brasileiras começaram a tomar o espaço da musica americana nas FMs,   assistíamos os caras pela TV,  no Chacrinha e no Silvio Santos, no Gugu, no Raul Gil... Tava tudo ali, ensinando os garotos e garotas a serem sacanas com seus pares, ensinando que as meninas só gostavam dos caras com carro, moto, dinheiro. Ensinando que quem tinha óculos não tinha chance, que se a gente não se corrigisse nos primeiros erros, a vida seria uma eterna chuva, como cantava Kiko Zambianchi em "Primeiros Erros", que nós éramos filhos da revolução, éramos burgueses sem religião, éramos o futuro da nação, éramos a Geração Coca-Cola, como na musica "Geração Coca Cola" de Legião Urbana, que as ideologias não respondiam as nossas aspirações  como cantava Cazuza... Creio que apoiadas pelo sentimento de abertura, do fim da ditadura, do desafio a censura, que ainda persistiu pela década de oitenta talvez por uns 4 ou 5 anos, as bandas e os compositores do Rock Brasil se lançaram na rebelião dos costumes sexuais, no excesso, no rompimento de todas as barreiras... Ninguém se preocupou com o que essa rebeldia, essa apelação sexual,  essa inovação no tratamento do amor, essa cara de pau para enfrentar o coração partido ia causar nas crianças... em nós, as crianças de então... Pela teoria de Nick Hornby isso fez da Geração Coca-Cola um bando de sarcásticos, uma geração que não acredita no amor,  no romantismo,  nem em compromisso e fidelidade. Presenciamos muito novos as bandeiras  da amizade colorida, da produção independente, e dos relacionamentos abertos, do sexo sem amor, e sem camisinha... Talvez aquelas cores cítricas, todo aquele gel e glitter, todos os babados e ombreiras... toda aquela inflação... a ameaça da bomba atômica, a guerra fria, os filmes de apocalipses atômicos... Isso deve ter se sedimentado na cabeça e nos corações da geração nascida entre 1970 e 1980. Isso fez  da geração que chegaria quase adulta  no grunge dos anos 90 um bando de cínicos. Acho que a Geração Coca Cola teve mais dificuldade de enfrentar certas coisas, como a Era Collor, a convivência com o fantasma da aids, fomos vítimas de uma certa melancolia quanto ao futuro...Concordo com Nick Hornby. Como pensar que isso não seria prejudicial ao nosso entendimento do que seria um relacionamento amoroso bem resolvido e feliz? Quem menos se deixou levar pelo pop rock dos anos 80, foi quem se deu melhor nesse aspecto da vida. Toda vez que termino um relacionamento, resgato as canções da pré-adolescência, e as explicações estão todas lá. Mas ainda assim me sinto privilegiada... A  coisa poderia ser pior... ainda não consegui visualizar o estrago  que as letras dos funks cariocas,  dos pagodes e sertanejos poderão causar na cabeça  e no futuro das crianças de hoje.
Brasília, 11.02.2012


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Confissões

amo amo amo...
amo sua voz, amo o jeito que você anda, amo o jeito que você fala.
amo o jeito que você pede alguma coisa,
ou faz observações sobre coisas aparentemente banais,
mas que que me tocam de forma profunda.
amo suas manias.
amo seu jeito seguro, sensual, como se soubesse de antemão todo o roteiro
e o mundo não tivesse outro remédio senão atender aos seus desejos.
amo pensar que nunca fui tão feliz.
amo pensar em como foi fácil te amar.
amo o frio na barriga que sinto ao imaginar
que nunca mais viverei algo tão devastador como esse amor.