Sábado de Carnaval eu dei plantão de manhã. Pra pegar no
tranco enquanto tomava meu Nescafé, estava assistindo o desenho do Sitio do Pica-pau
Amarelo. Nesse episódio Emília conversava com Rabicó no pomar e estava muito
amuada, porque tia Nastácia estava muito ocupada preparando alguma comida deliciosa
e todos no sítio estavam empolgados. Emília não participou do entusiasmo, se
afastou e ficou emburrada no pomar até a chegada do porquinho glutão. Ela confessou
que o motivo de sua irritação era que não entendia a empolgação de todos com os quitutes que tia Nastácia estava
fazendo, porque ela, Emília, não sentia gosto da comida. Rabicó ficou surpreso
e desolado...”Como? Não sente gosto de
comida nenhuma?” e a bonequinha diz: “eu sou feita de pano, minha língua é de
pano, não sinto gosto”. Não sei como acabou o episódio do desenho animado
porque tive que pegar minha tralha e seguir o caminho da roça, mas fui pelo
caminho pensando... Coitadinha da Emília!!! Que tristeza não sentir gosto dos alimentos... Nem o ardido, nem o doce, nem o
amargo, nem o salgado, nem o azedo, nem o “gosto sem gosto”, descoberto recentemente,
aquela "trava" que alguns alimentos têm e faz toda a diferença...Ah, o sentido do paladar! Que milagre da
existência. Quanta sutileza no uso do sal, do açúcar, dos temperos, das
texturas... Essa sabedoria e refino no
ato de nutrir-se que nos separa dos animais irracionais... Comer é bom demais. Fiquei
curiosa pra saber como terminou o episódio, espero que esse dilema da Emília, personagem
tão curiosa, não ter o maravilhoso sentido do paladar, tenha sido resolvido... Torço
para que o roteirista tenha achado uma boa solução. Aí me recordei das modas
dos alimentos. Gente, me veio à memória aquelas modas de alimentos que, de
repente, eram os salvadores de todas as
mazelas do mundo. Quandoeu era pequena, uma de minhas irmãs tinha bronquite. Aí
uma vizinha da minha mãe apareceu com um vidrinho cheio de um besourinhos que pareciam caruncho, e comiam a casca do amendoim, e colocavam seus ovinhos dentro de uma camada de farinha de
mandioca... a criança doente tinha que tomar o “Caldo do besourinho”—nunca soube
o nome desse inseto—vou chamá-lo assim... colocava-se uma porção dos bichinhos numa
xícara com chá ou leite quente. Quando o bichinho morria afogado coava-se o
líquido e dava pra pessoa doente beber. Lá em casa os tais bichinhos viraram uma
febre, eles superpovoavam o vidro de maionese, aí tinha-se que criar uma nova
colônia dos bichinhos em outro vidro de maionese e doar pra alguém. Uma vez fomos passar uma semana na praia e os
bichinhos ficaram, quando voltamos acho que todos estavam mortos. Acabou a moda
dos bichinhos. Depois teve a moda do pão, que se fazia a partir de um fermento que uma vizinha preparava,
dividia em três partes, fazia o pão com uma parte do fermento, dava a outra
parte pra algum vizinha, que fazia um pedido enquanto amassava o pão e a outra
parte guardava para preparar outro pão.. A mãe logo desistiu de continuar fazendo o pão. O
pão era uma delícia, lembro do cheiro até hoje. A mãe do meu melhor amigo, o Beto, continuou
fazendo durante um bom tempo. Era bom demais. Também tinha os lactobacilos do
iogurte... Sempre tinha iogurte natural em casa, porque o tal fermento do
iogurte crescia e se multiplicava... Eles pareciam um punhado de sagu. Engraçado que a gente não podia ter nenhum
cachorro ou gato em casa porque dava trabalho, mas minha mãe cuidava de todos
esses seres estranhos porque eram alimento... E a alga que tinha que ser
mantida no chá preto e que o caldo era emagrecedor??? Essa alga, confesso que eu gostava de comer os pedacinhos dela que
tinham textura de cogumelo, ou de gelatina dura e eram adocicados. Engraçado
que não me lembro desses alimentos , que tinham status de remédio---ou de
simpatia-- terem deixado qualquer pessoa
da minha família rica, como no caso do pão, ou magra , como no caso da
alga, e sequer sem doenças respiratórias, que era o caso dos besourinhos que
pareciam caruncho e do iogurte caseiro. Será
que essas modas de alimentos funcionais
só existiam na minha casa ou no meu bairro??? Se você souber o nome dessas
coisas de comer estranhas, ditas funcionais e provavelmente sem nenhuma
comprovação científica, que foram moda nos anos 70-80, compartilhe! Vou gostar
de saber que não estou sozinha no meu mundo de memórias gustativas.
cara amiga, minha familia tb passou por todas essas febres gastronômicas, que, nunca, nunquinha mesmo, teve nenhum efeito, e pelo q me lembro os nomes eram tão estranhos como eles, tipo o bichinho do iogurte, e o pão de CRISTO. AHHHHHHAI O PÃO DE CRISTO!!!!Ainda me lembro do cheirinho dele perfumando toda a casa qd eu chegava da escola, sempre nas segundas feiras, é claro...
ResponderExcluirbrigadinho Bia, por me trazer essas maravilhosas lembranças gastronômicas da minha infância...rs...
beijos
Musa
Musa! Adorei saber! Com certeza a melhor dessas receitas de boa saúde e boa sorte era a do Pão de Jesus Cristo! Beijos! Saudades de você!
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